Buracos, poeira e lentidão. As rodovias que conectam Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama são um teste de paciência para visitantes de todo o Brasil que frequentam o Polo de Confecções e irrigam sua produção para todo o país através de carros ou ônibus, meios de transporte favoritos dos comerciantes. Se para eles, que não têm tempo a perder, a morosidade das vias atrapalha os negócios, para aqueles que vivem nas três cidades, cansados de esperar por melhorias, o temor é o de que alguns deles deixem de frequentar a região para buscar os produtos na concorrência. A reportagem do LeiaJá observou o trabalho de tratores em trecho com obra na PE-160, mas os comerciantes locais afirmam que o problema é antigo e nunca integralmente resolvido.
A lojista Ana Alice Correia se sente prejudicada pelas condições de acesso ao Moda Center. “O trânsito fica muito lento e acaba atrapalhando o movimento de clientes. No momento, as estradas não estão boas, mas parece que agora estão começando a trabalhar”, lamenta. Também proprietário de um ponto comercial no centro atacadista, Marcelo Rocha está descrente no poder público. “Se o visitante é bem recebido, ele retorna, mas se não for, dificilmente voltará. A falta de interesse e o desleixo dos governantes precisam ser colocadas, eles desgastam o comércio. A melhor resposta seria na urna”, completa. De acordo com ele, as críticas dos clientes às rodovias que conectam o Polo são frequentes. “Alguns desabafam mesmo, tem trechos de terra em que a passagem é muito complicada. Sempre houve essa deficiência”, conclui.
O lojista Marcelo Rocha tem medo de que as condições das estradas atrapalhem as vendas
O síndico do Moda Center Santa Cruz, Allan Carneiro, coloca que já alertou, por diversas vezes, o Governo de Pernambuco sobre as más condições das estradas da região. “O que falta ao Estado é reconhecer o Polo de Confecções como ele realmente é. Acho que as pessoas que estão à frente de Pernambuco acabam subdimensionando sua importância”, afirma. Para Carneiro, o Estado comete um erro estratégico. “Não é possível que essas cidades recebam tantas pessoas de fora e sejam tratadas desta forma, sem o investimento correto”, completa.
Apesar das críticas, o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Pernambuco (DER-PE) garante que está executando projetos que trarão melhorias nas espinhas dorsais do Polo de Confecções do Agreste. A primeira delas, a BR-104, está sendo restaurada e duplicada entre os quilômetros 19,8, no distrito de Pão de Açúcar, em Taquaritinga do Norte, e 33, no município de Caruaru. “Essa iniciativa conta com investimento de R$ 77,9 milhões, sendo 90% dos recursos do Governo Federal e uma contrapartida de 10% do Governo de Estadual, por meio de um convênio firmado entre ambos. Até o momento, foram concluídos 16,44% do total dos serviços previstos nessa iniciativa, que tem prazo previsto para ser concluída em agosto de 2019”, explica a nota oficial da instituição.
Reportagem observou abundância de buracos na PE-160
O DER assegura que o fluxo de veículos segue sem maiores transtornos, sendo interrompido apenas quando são ocorrem as detonações de explosivos, necessárias para demolição do material rochoso. “A conclusão das obras desse trecho da BR-104 vai melhorar a mobilidade dos usuários com boas condições de trafegabilidade, mais conforto e segurança, além de trazer imensa contribuição para o crescimento do Polo de Confecções do Agreste, incremento do turismo local e geração de novos postos de trabalho, ajudando no desenvolvimento dessa região do Estado, beneficiando diretamente mais de 384 mil moradores”, comentou o diretor-presidente do DER, Silvano Carvalho.
A outra rodovia em obras é a PE-160, em cujo trecho mais movimentado, no perímetro urbano de Santa Cruz do Capibaribe, cerca de 15 mil veículos circulam diariamente. “Até o momento, já foram finalizados 64% do total dos serviços previstos das obras de restauração e duplicação da PE-160. A iniciativa contempla 12,15 quilômetros da rodovia, contando com investimento aproximado de R$ 76,9 milhões. Quando estiver concluída, beneficiará diretamente mais de 133 mil habitantes da região”, explica o DER.
DER garantiu que três equipes trabalham em obras na região.
O órgão pontua ainda que, sob determinação do Governo de Pernambuco, reforçou as ações da PE-160 com uma terceira equipe de trabalho. “Atualmente, duas delas estão atuando na instalação do novo sistema de drenagem, no final do trecho, nas imediações do Moda Center, no perímetro urbano de Santa Cruz do Capibaribe, onde o tráfego está fluindo normalmente. Em seguida, será instalada a segunda camada de asfalto em 3,5 km, totalizando 7 km de pistas dos dois sentidos desse segmento, que é duplicado. A terceira turma segue trabalhando no início do trecho da rodovia, em Pão de Açúcar, aplicando a camada de asfalto”, reforça o DER.
Lojistas criticam condições dos banheiros
O cenário é o corriqueiro. Às quatro horas da manhã, a despeito do frio lancinante, comerciantes e visitantes de todo o país já circulam pela lendária Feira de Caruaru. Com “tudo que há no mundo”, conforme lembra o Baião de Onildo Almeida imortalizado na voz de Luiz Gonzaga, a atraente estrutura não consegue atender bem a todos os interessados, segundo os lojistas da cidade. Faltam vagas de estacionamento, sobretudo públicas, para atender à grande circulação de carros abarrotados de peças de vestuário. “Os estacionamentos daqui são privados e muito caros. Várias pessoas já me relatam que deixaram os veículos na rua e foram multados. A guarda municipal só multa, não é didática nem há advertências ou sinalização para os turistas”, comenta o vendedor Gilson Moura.
Assim, a demanda dos veículos é atualmente atendida por terrenos baldios transformados em estacionamentos. A reportagem contou pelo menos quatro estabelecimentos do tipo no entorno da feira. Freguês antigo, o comerciante Emanuel Messias costuma levar a família para a feira a passeio. Ele costuma deixar o carro no estacionamento do Centro de Artesanato, mantido pela Associação dos Sulanqueiros da cidade. “Compro em Caruaru pela tradição, mas acho a segurança muito fraca e o espaço para os carros muito pequeno. Além disso, só dá para usar o banheiro particular, porque o público é sem condições”, coloca.
Após horas ou até mesmo dias na estrada, os viajantes que chegam à feira de Caruaru evitam o desgaste dos banheiros públicos. A preços acessíveis, a estrutura privada oferece cabines limpas, sabão e uma quantidade fixa de papel higiênico por usuário. “O banheiro da feira é péssimo, sujo. Não tem como tomar banho”, atesta a vendedora Danúbia Moura.