As definições contidas nos dicionários para a palavra parceiro são: "parelho", "semelhante, "companheiro". Para Luiz Gonzaga essa tradução é, essencialmente, verdadeira. A carreira de sucessos do Rei do Baião foi permeada de grandes parcerias. A primeira delas ele encontrou em casa. Seu pai, Januário José dos Santos, pode ser considerado, ao pé da letra, seu primeiro companheiro no mundo da música. Foi consertando instrumentos ao lado do pai que o "Velho Lua" aprendeu a tocar acordeão, dando início assim a um amor que carregou para o resto da vida.
Profissionalmente, a vida musical de Gonzaga só pode ser compreendida a partir do ano de 1939, quando sai do exército e vai para o Rio de Janeiro. O primeiro parceiro de Luiz foi o baiano Xavier Pinheiro, com quem foi morar no bairro de São Carlos e que futuramente criaria o filho do Rei do Baião. Juntos, eles tocavam em casas noturnas, os ditos "cabarés", ritmos como fado, choros, sambas, valsas, tangos, entre outros.
Sem tanto sucesso, Gonzaga passou a se apresentar sozinho nas ruas. Depois de ser indagado por estudantes nordestinos, ele concluiu que precisava mostrar em suas canções aquilo que a região tinha e significava.
Anos 40: a década de Humberto Teixeira e o "hino do nordeste" - Asa Branca
Luiz Gonzaga já tinha reconhecimento e compunha algumas canções, além de contar com as parcerias de Miguel Lima, Alcebíades Nogueira, Assis Valente e Jeová Portela. Com o objetivo de dar mais características do Nordeste às suas musicas, Luiz inicia uma parceria com Humberto Cavalcanti Teixeira, um advogado cearense. Começa aí uma história de sucesso.
Humberto se formou em direito no Rio de Janeiro, mas também seguiu pelo caminho da música. Ele tinha composto sambas, marchas, xotes e algumas toadas quando teve o primeiro encontro com Luiz Gonzaga. O "Velho Lua" disse o que pretendia e Teixeira apostou."Humberto Teixeira foi quem acreditou primeiro no projeto de Luiz. Além da simpatia com o propósito, tinha capacidade, talento e inteligência para se tornar um dos seus grandes parceiros", analisou Renato Phaelante, que é pesquisador, escritor, produtor de rádio e TV, diretor de teatro e compositor.
Em 1947, Gonzaga e Teixeira, já criadores do ritmo "baião", apresentam Asa Branca, música de maior sucesso dos dois. A canção passou um bom tempo sendo idealizada pela dupla e é considerada por muitos o "hino do nordeste", já que retrata a saída de um nordestino de sua terra por conta da seca e todo sofrimento por conta disso. Eles ainda compuseram outras músicas que se tornaram grandes hits no país. Entre elas estão Assum preto e Respeita Januári, canção que é fruto da viagem que Luiz Gonzaga fez para reencontrar a família depois de anos trabalhando fora de Pernambuco.
Teixeira também tinha a política nas veias e, em 1954, se elegeu deputado federal. Ainda na área musical, foi eleito por três anos consecutivos como o melhor compositor do Brasil e teve músicas gravadas por cantores como Gilberto Gil, Fagner e Caetano Veloso.
Década de 1950: Gonzaga descobre Zédantas
Depois de alcançar o status de Rei do Baião, Luiz Gonzaga conheceu Zédantas, que era estudante de medicina e um músico vocacionado. O primeiro encontro deles ocorreu em 1947, no Recife. Dantas é pernambucano de Carnaíba das Flores, no Sertão do Estado.
Dantas nunca teve apoio de seu pai, José de Souza Dantas, para seguir no mundo da música. Se formou em medicina, mas continuou no universo musical. Por conhecer bem a região nordestina, Zé conseguiu falar com propriedade dos aspectos de sua terra.
Juntos, eles conseguem fazer uma década inteira de sucessos: Vem, morena, A dança da moda, Sabiá, São João na roça, Á-bê-cê do sertão, Riacho do Navio e Xote das meninas, que é uma das canções mais conhecidas.
"Considero Zédantas o mais importante dos parceiros de Gonzaga, pela identidade com seus objetivos de promover a cultura e o folclore Nordestino. Ele contribuiu para levar ao conhecimento do resto do Brasil os problemas, capacidade, talento e coragem do nordestino", explicou Phaelante.
Comparativo entre Dantas e Teixeira
Em duas décadas de sucesso, a comparação entre os compositores que acompanharam Gonzaga foi inevitável. Para o jornalista e professor José Mário Austregésilo, autor do livro o Luiz Gonzaga, o homem, sua terra e sua luta, é difícil compará-los, mas revela detalhes sobre Dantas. "Não dá para fazer uma balança ou comparar, mas Gonzaga teve parceiros fantásticos. O parceiro-mor foi Zédantas. Luiz disse que quando o encontrou sentiu o cheiro de bode. O compositor reunia o que Gonzaga foi encontrando nos outros. Ele encontrou o que buscava".
De acordo com o pós-doutor e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Durval Muniz de Albuquerque Júnior, escritor do livro A invenção do Nordeste e outras Artes, Teixeira foi importante para Gonzaga dentro e fora do universo musical. "Até pela música símbolo da trajetória do Rei do Baião ter sido em parceria com Teixeira, eu diria que ele teve uma enorme importância, inclusive na articulação e sustentação política da carreira de Luiz, em dado momento, e na sua articulação ao regionalismo nordestino".
Entre os discípulos de Gonzaga, o músico Arlindo dos Oito Baixos revela sua preferência. "Eu gostava muito das músicas de Zédantas". Dominguinhos reforça a importância de cada um. "Acho que não existe um principal. Humberto tinha uma linguagem mais intelectual. Já Dantas era algo mais popular", comentou.
Mais sucessos com novas parcerias
A carreira de Gonzaga nos anos 50 não ficou apenas exclusiva a Zédantas. Ainda nesta década, O Rei do Baião gravou músicas de Jorge de Castro, Guio de Morais, Sylvio Moacyr de Araújo, Manezinho Araújo, Lupicínio Rodrigues e outros. Quem mais conseguiu destaque foram o mineiro Hervé Cordovil, com quem Luiz mostrou o sucesso Vida de Viajante; além de Onildo Almeida, autor de A feira de Caruaru.
Na década de 60, outros nomes importantes entram em ação. Entre eles estão: Benil Santos, Raul Sampaio, Rosil Cavalcanti, Nelson Barbalho, Patativa do Assaré, Júlio Ricardo, Severino Ramos, Luiz Queiroga, Antônio Barros e José Clementino, além de Onildo - que ainda fazia canções com o "Velho Lua".
Nesta época, dois compositores chamaram a atenção. Um deles é Zé Marcolino. Ele nasceu em Sumé, na Paraíba, e sempre gostou da cultura nordestina. Tinha muita vontade de conhecer Luiz Gonzaga e depois de várias tentativas sem sucesso resolveu partir para o tudo ou nada. Quando o Rei do Baião se hospedou na sua cidade, ele se dirigiu até o hotel e tentou mostrar o seu trabalho.
Marcolino persistiu e com um bate-papo depois do show, Gonzaga o chamou para uma nova parceira e os dois rumaram para o Rio de Janeiro. Eles conseguiram emplacar outros sucessos como: Numa sala de reboco, Matuto Aperriado, Cacimba Nova, Serrote Agudo e Projeto Asa Branca.
Outra parceira importante desta década foi com João Silva. "Ele foi fundamental porque disse: 'Gonzaga, vamos cantar umas coisas alegres'. Ele provocou umas coisas em Luiz Gonzaga", detalhou José Mário Austregésilo.
O compositor chegou ao Rio de Janeiro com 17 anos. Depois que se juntou com o "Velho Lua", os dois produziram muitas músicas que caíram no gosto popular, entre elas Piriri, Forró de cabo a rabo, A mulher do sanfoneiro, Lenha verde, Nem se despediu de mim, Meu Araripe, Uma pra mim outra pra tu, Pra não morrer de tristeza e Pagode Russo.